A moderna legislação brasileira, em especial a Lei Federal 13185 de 06/11/2015, classifica o Bullying como sendo " todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas". Neste contesto, agressão e violência são marcas do bullying que as artes marciais podem atuar de diversas formas, principalmente de maneira preventiva e também no âmbito da defesa pessoal quando a agressão é eminente e incontornável.
No âmbito preventivo, as artes marciais, quando ministradas por professores e mestres realmente capacitados para tal missão, promovem a construção na criança e no adolescente, bem como nos adultos, vários aspectos psicológicos, como a auto estima, o sentimento de pertencimento de grupo, a auto-confiança, o empoderamento tático, a disciplina necessária para mudar hábitos, dentre tantos outros. Já no campo reativo, as artes marciais desempenham papel importante na defesa pessoal, no auto-domínio diante de situações de stress e provocações, defesa efetiva e também no domínio seguro de táticas de esquiva e escape dos conflitos.
No entanto, é importante lembrar que as artes marciais raramente são ensinadas nas instituições de ensino públicas e privadas e, quando o são, em geral são a título de modalidades esportivas, recreativas ou de formação complementar de atletas. Ainda assim a ministração de aulas ocorre de forma muito semelhante às metodologias de academias, sem nenhuma adequação didática para objetos específicas anti-bullying.
No entanto, quando me refiro ao ensino direcionado de artes marciais para o combate ao Bullýing, percebe-se que há necessidade de uma didática específica e direcionada para este objetivo, e para isso é necessário que ocorra, ao menos, os seguintes cuidados:
a) Escolha de modalidades de artes marciais que sejam adequadas ao objetivo anti bullying, tendo em vista que são muitas as modalidades e estilos de artes marciais. Certamente que modalidades que se utilizam apenas de espadas nos treinamentos não atendem a este objetivo, a título de exemplo.
b) Preparação e orientação de professores e mestres quanto aos objetivos desejados, dando foco nas aulas principalmente na DEFESA PESSOAL, selecionando para isso um conjunto técnico de fácil aprendizado e de fácil aplicação em situações reais. É importante lembrar que um aluno vitima de bullying por vezes pode precisar conhecer artes marciais por necessidade e não por paixão ao esporte.
c) Criação de espaços de treinamento de defesa pessoal anti-bullying com salas equipadas para a metodologia a ser empregada. Certamente que este espaço técnico deverá combinar tantos as ferramentas didáticas da modalidade marcial a ser aplicada no ensino, como também os objetivos educacionais da instituição principal, alinhando ambos os cenários.
d) Implementação de cultura de prevenção e também de reação defensiva nas aulas de artes marciais, sendo que para isso os professores e mestres devem ter o devido preparo para desempenhar esta missão nos moldes legais.
A criação de salas de Defesa Pessoal nas instituições de ensino, objetivando o ensino preventivo e reativo ( no sentido da defesa pessoal) , e mesmo em clubes, associações tornou-se uma necessidade geral sinalizada até mesmo na própria Lei Federal 13185 (6/11/2015), Artigo 5, quando destaca inclusive a necessidade COMBATE Á VIOLÉNCIA:´ Art. 5º... É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática ( bullying ).
Ainda em apoio às artes marciais para o fortalecimento de crianças e adolescentes contra a violência, saliento o direto nato de todo indivíduo, inclusive das crianças, de agir de legítima defesa.... sem se extrapolar os limites da coerência e bom senso. Para tanto, mais uma vez, as artes marciais , devidamente selecionadas e orientadas, são recurso eficaz para tais objetivos de defesa das crianças e adolescentes.
No entanto, muitas vezes os pais que possuem filhos vitimas de bullying decidem por conta própria inserir os seus sucessores a treinos de lutas e artes marciais em academia ou até mesmo em aulas particulares nas próprias residências, sinalizando assim o senso comum de que tais medidas são de fácil aceitação social. Porém, para tais pais, o conselho que se dá é que as mesmas medidas que as instituições escolares devem adotar sirvam também para as decisões familiares no tocante a contratação de aulas de lutas e defesa pessoal para seus filhos.
KIT DE SALA DE TREINO
Uma sala de treinos para defesa pessoal devidamente equipada necessita de alguns equipamentos tradicionais de lutas, que são de uso da grande maioria das modalidades esportivas, a saber:
1) Ringue de boxe plataforma elevada: este equipamento delimita o espaço de lutas, possui proteções e estimula a adrenalina durante o uso devido à sua elevação do solo. Este tipo de equipamento pode ser substituído por octógonos de treino também, a depender da modalidade marcial a ser aplicada.
2) Suporte de solo com 4 tipos de sacos de pancadas: geralmente comporto por um saco de pancadas longo (1.80m), um saco de pancada mais curto e mais largo (1,10m), um saco do tipo teto-solo, um saco de pancadas estilo gota (para treinos específicos de joelhadas e cotoveladas).
3) Tatame lonado de espessura de 30mm: ideal para treinos que envolvam quedas e pequenas projeções, devidamente revestido de lona para a perfeita higienização.
4) Boneco Sparring: ideal para aplicações de técnicas visando alvo mais realista.
5) Pares de Colete e protetores com alvos presos em velcro: ideal para lutas simuladas e de pontos, permitindo sparrings seguros e lúdicos. Este tipo de equipamento permite ótima aplicação de táticas de ataque e defesa de forma lúdica e bastante segura quanto a riscos e acidentes de treino.
6) Colchão de saltos acrobáticos: ideal para o treino recreativo de pequenas manobras com saltos, a fim de se promover mais auto confiança e segurança nos alunos.
Observação importante quanto aos equipamentos é que o objetivo do treinamento não é competitivo, más sim direcionado á defesa pessoal, ganho de habilidades correlacionadas, desenvolvimento de auto estima, de forma a enturmar e criar o senso de pertencimento entre os alunos.
METODOLOGIA PARA PROFESSORES E MESTRES
Independente da arte marcial adotada, é de fundamental importância que haja um cronograma e um conteúdo programático a ser aplicado nas escolas, totalmente direcionado à defesa pessoal de forma central , incluindo recursos lúdicos para isso.
Também, por não se tratar de academia convencional, é importante que a seleção técnica seja de rápido aprendizado e de eficaz aplicação e eficiência. Logo, cabe aos professores e mestres preparar este currículo marcial para tal objetivo. Muitas vezes o gestor pedagógico ou diretor de escola realiza a contratação de consultoria especializada para se traçar as diretrizes do programa educacional marcial, e tão somente depois contrata profissionais da área de lutas para aplicar tal programa no formato inicialmente desenhado. Este modelo é bastante interessante para que a escolha de professores aleatoriamente não seja afetada por pontos de vista pessoal destes profissionais e tragam vícios pedagógicos de academias que não se aplicam ao ambiente escolar.
Vale a pena salientar que a propostas das Salas de Empoderamento não é a formação de atletas nem de competidores, muito menos de seguidores das artes marciais, más sim fomentar habilidades úteis para crianças e adolescentes a ponto de, juntamente com toda a orientação sócio-educativa, estes sejam capazes de se esquivar evitar qualquer situação de bullying, com o devido grau de segurança e auto-confiança.
SALAS DE LUTAS E DE EMPODERAMENTO
Importante concluir que, ao estimular a criação de salas de lutas ou de empoderamento, não somente uma educação anti-bullying estará sendo adotada de maneira pragmática, más também uma cultura relacionada à importância da atividade física, da sociabilização, de combate ao sedentarismo e também de auto-conhecimento, além de tantas outras virtudes.
Criar caminhos para que o jovem ande enturmado e tenha o senso de pertencimento é algo muito importante neste tipo de projeto também, pois uma das orientações mais universais de combate ao bullying é justamente a orientação das vítimas de se colocarem em situações isoladas diante de ambientes hostis.
Há muito o que se falar e apresentar sobre projetos relacionados a artes marciais no combate ao bullying, porém esforços práticos devem ser aplicados ao sistema educacional, não somente no âmbito de orientação preventiva, más também fomentando a implantação concreta de Salas de Empoderamento e Defesa Pessoal. É necessário não somente orientar preventivamente, más sim também, capacitar os jovens à legitima defesa em situações onde não há escape. Afinal, os agressores sempre buscam formas de não serem punidos; cabendo às vítimas buscar formas de não serem agredidos, sem que isso seja um estímulo para potenciar a violência em nenhum sentido.
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Paulo Sergio de Carvalho Barbosa
Empresário, Jornalista, Escritor, Consultor Marcial
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